quarta-feira, 8 de julho de 2015

Cerveja em lata de alumínio já completou 25 anos no Brasil


Marcio Beck
imagens: Acervo O GLOBO

A cerveja em lata de alumínio chegou com estardalhaço no mercado brasileiro em dezembro de 1989, quase três décadas depois de ter surgido, nos Estados Unidos. Em 25 anos, o caminho para conquistar o público foi árduo, mas frutífero: a embalagem representou 41,4% dos 13,4 bilhões de litros de cerveja vendidos no Brasil no ano passado. A lata foi o único tipo de embalagem cuja produção cresceu em 2013, na comparação com o ano anterior. Teve alta de 4,8%, de 5,32 milhões de litros para 5,58 milhões de litros, enquanto garrafas de vidro 600ml caíram 6,4% (7,95 milhões para 7,44 milhões) e garrafas de vidro one-way 330 ml recuaram 4% (4,62 milhões para 4,43 milhões de litros).

Sua presença maciça, hoje em dia, é um símbolo da aceitação do público, obtida após alguns anos de desconfiança por parte dos consumidores. A lata de alumínio foi vista, inicialmente, de forma negativa, apesar de prometer resolver os problemas apresentados por sua antecessora, a lata de folha de flandres (composto de ferro, aço e estanho), que interferia no aroma e no sabor da bebida, segundo o relato de bebedores de cerveja veteranos.

A salvação delas, quem diria, veio por meio da popularização do formato "latão", que traz 473 ml (equivalente a um pint americano) em vez dos tradicionais 355 ml da lata e dos 600 ml da garrafa de vidro. O preço acessível dos latões colaborou para que muitos consumidores fossem confrontados com a necessidade de rever sua opinião em relação às latas. Praticamente inertes à bebida, elas mostraram que não prejudicavam a experiência cervejeira e têm a vantagem de resfriar mais rápido (ainda que acompanhada da desvantagem de esquentar mais depressa também).

Ainda há quem as discrimine, na maioria das vezes, por falta de uma informação fundamental: se você quer o bem da cerveja, confie no invólucro que a proteja 100% do contato com seus arquiinimigos, os raios ultravioleta. No caso dos invólucros metálicos, não resta dúvida que protegem mais do que as garrafas de vidro, não importando quão escuras estas sejam (quanto mais claras, mais a cerveja sofre). Os raios ultravioleta, se tiverem contato com a bebida, reagem com os resíduos do lúpulo (planta que é a principal responsável pelo amargor), provocando aroma e sabor conhecidos lá fora como "skunk", ou seja... de gambá.

As primeiras informações sobre a novidade no Acervo O GLOBO, de acordo com uma pesquisa que realizei nos últimos meses, foram trazidas por uma reportagem curta, sem assinatura do repórter, publicada em 11 de novembro de 1989, com o título: Skol agita verão com cerveja em lata de alumínio.

Desenvolvidas pela Reynolds Aluminum, as novas latas tinham um terço do peso das antecessoras: 17 gramas cada, contra 51 gramas das feitas com folha de flandres. Além de bem mais leves, um ponto importantíssimo: não enferrujavam. Até o anel que permitia a abertura da lata foi redesenhado, para não ser mais destacável (stay on). O canto da sereia da ecologia, um discurso ainda incipiente na publicidade, também aparecia: eram 100% recicláveis.

Fruto de um consórcio internacional de cervejarias, cuja produção é licenciada para diferentes empresas no mundo, a Skol também fora pioneira no lançamento da folha de flandres, duas décadas antes. Havia entrado no portfólio da Brahma em 1980, e era produzida em quatro estados (Rio, São Paulo, Minas e Paraná), além do Distrito Federal.

Em 30 de novembro, O GLOBO noticiou que a Reynolds estava sendo financiada por três bancos – Bradesco, Banco Francês e Brasileiro (BFB) e Credibanco – com 65% dos US$ 75,8 milhões investidos na Latas de Alumínio S.A. (Latasa), que iniciara produção naquele mês em Pouso Alegre (MG). A previsão era de 800 milhões de unidades fossem produzidas anualmente, para o mercado de bebidas gaseificadas, que abrangia as cervejas e refrigerantes.

Mal iniciava a produção, a Latasa já se comprometia (1/12/1989) a duplicá-la; seria necessário, para poder abraçar as demandas do restante do setor cervejeiro. À época, duas fábricas – Rheem e Matarazzo – produziam latas de folha de flandres no Brasil, que representavam um mercado de 1 bilhão de unidades, responsáveis por 2,5% do consumo nacional da bebida. De acordo com o colunista de economia George Vidor (edição de 2/12/1989), houve um "acordo de cavalheiros" entre as empresas para permitir à Skol a primazia no lançamento novamente. "Agora, está havendo uma briga de foice no escuro para ver quem lança em segundo lugar", acrescentou o jornalista.

Seguindo a pista apontada por Vidor, a então repórter de Economia (hoje editora do caderno Morar Bem do jornal) Léa Cristina buscou os bastidores da chegada das novas latas aos país. O que havia de certo era que Brahma e Antarctica disputavam o vice-campeonato na apresentação da novidade; fora isso, deparou-se com versões conflitantes.

O diretor administrativo da Brahma, William Gregg, contou que a Reynolds International havia iniciado os contatos anos antes com a cervejaria. Mas a construção da fábrica de Pouso Alegre teria atrasado – de julho para outubro – e as cervejarias revisaram seus planos. Segundo a repórter, "alguns diretores da Brahma" chegavam a falar em acordo de exclusividade. O presidente da Reynolds International, Deoclécio Pignataro, negava qualquer arranjo nesse sentido, e disse que entregou os primeiros 18 milhões de latas dentro do prazo. Mas a falta de capacidade da empresa para atender a todos era o principal gargalo (com trocadilho).

O mercado de cerveja em lata, do qual a Skol detinha 80%, era de 250 milhões de latas por ano, e a de refrigerantes, de 275 milhões, segundo o texto de um box intitulado "Briga das latas só terminará em 1990" – referência ao ano seguinte, em que a Latasa alcançaria a produção dobrada que lhe permitiria atender a todos. Em 20 de dezembro de 1990, a Skol mais uma vez pode inaugurar uma embalagem, com o lançamento de sua Skolfest, um barril de alumínio de 5 litros de cerveja.

Nos Estados Unidos, as cervejarias artesanais aderem cada vez mais entusiasmadamente às latas. Cervejas artesanais com avaliações extremamente positivas, como a imperial stout Ten Fidy, da cervejaria Oskar Blues, a India pale ale Jai Alai, da Cigar City Brewing, e outras, existem somente em latas de alumínio. No Brasil, infelizmente, poucas se aventuraram, e ainda não houve uma cerveja notável nesta categoria.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

A História da Latinha


Do original: "Beercanopedia" uma seção de Andy's Beer Can Collecting Pages de Andrea Pollett.
Tradução para Portugal: "Latopédia" uma seção de latascan de Isabel
Adaptado para o Brasil por Carlos Alberto Tavares Coutinho.

A História da Lata

A necessidade de sobrevivência do homem primitivo o obrigou a criar as primeiras embalagens da humanidade. Conchas marinhas, cascas de castanha ou de coco devem ter sido as primeiras embalagens utilizadas para beber e estocar. Usados em estado natural, sem qualquer beneficiamento, os primeiros recipientes passaram, com o tempo a ser fabricados a partir da habilidade manual do homem. Assim, surgiram as tigelas de madeira, bolsas de pele e cestas de fibras naturais.
A primeira matéria-prima usada em escala industrial e de transformação para a produção de embalagens foi o vidro por volta do ano 500 d.C. Metais como o ferro, cobre e estanho eram utilizados há muito tempo, surgindo praticamente junto com a cerâmica. Mas somente nos tempos modernos passaram a figurar com destaque na produção de embalagens.
A história da lata começou em 1795 quando o governo Francês ofereceu um prêmio de 12.000 francos para quem inventasse um método de conservar comida. O seu desenvolvimento foi, como muitos outros da história da humanidade, impulsionado por necessidades militares, tendo sido de especial importância no caso o apoio de Napoleão Bonaparte, que necessitava de um processo confiável para a preservação de alimentos. Na época, os soldados franceses morriam nos campos de batalha atingidos não só pelos adversários, mas também pela fome. As tropas de Napoleão estavam sendo arrasadas mais pela fome e doenças relacionadas do que pelo combate. Conquistas militares e expansão colonial requeriam que uma forma de transportar comida sem apodrecer fosse descoberta.
Um parisiense chamado Nicholas Appert teve uma idéia. Ele usou sua experiência de ex-doceiro, vinhateiro, cozinheiro, cervejeiro e fabricante de pickles, para aperfeiçoar sua técnica. Depois de 15 anos de experiências, Appert obteve sucesso na preservação de comida, vedando as garrafas com rolhas e imergindo as garrafas em água fervente. As descobertas de Pasteur (que seres microscópicos, eram os responsáveis pela transformação de uva em vinho) surgiram quase um século depois, em 1857. Contudo Appert supôs que como no vinho, exposição ao ar estragava a comida. Assim, a comida colocada num recipiente que vedava a entrada do ar, ficaria fresca e com boa qualidade. E isso funcionou.
Amostras com comidas preservadas pelo método de Appert foram enviadas para o mar por mais de quatro meses. Carnes e vegetais estavam entre os 18 itens diferentes em recipientes de vidro, todos retiveram seu frescor e nenhuma substância passou por mudanças substanciais. Em 1810, Appert ganhou o prêmio do próprio Napoleão e escreveu um livro chamado “O livro de todos os lares: a arte de preservar comida por muitos anos.” Ele descrevia em detalhes o processo de armazenagem de mais de 50 comidas e foi amplamente reconhecido.
No mesmo ano, uma cópia de seu livro foi parar nas mãos de um Inglês chamado Peter Durand, que deu entrada com o pedido de patente em 1810: "primeiramente acondicionamos os alimentos em garrafas ou outros vasilhames de vidro, potes ou recipientes de estanho ou outros materiais adequados". Esta foi a primeira sugestão de que recipientes revestidos de estanho, a futura lata, poderiam ser usados na conservação de alimentos.
Peter Durand recebeu uma patente do Rei George III pela idéia de preservar comida em "recipientes de vidro, cerâmica, aço e outros metais". Durand pretendia superar Appert com a utilização de recipientes de aço. Feito de ferro coberto com latão para prevenir ferrugem e corrosão, as latas poderiam ser vedadas, impedindo a entrada de ar, mas não eram quebráveis como o vidro, afinal, um recipiente metálico cilíndrico com uma tampa soldada seria muito mais fácil de manusear que uma garrafa frágil com uma rolha, de pouca confiança.
Durant vendeu sua patente em 1811 à firma londrina Donkin, Hall and Gamble, que achavam o vidro muito frágil e a cortiça muito porosa. Começaram então a usar recipientes de chapas de ferro estanhadas - na realidade as primeiras latas a serem produzidas!
Essas primeiras latas eram feitas de modo artesanal, uma a uma, por ferreiros, em chapas de ferro batido que posteriormente eram imersas em estanho líquido para serem protegidas da corrosão.
Em 1812, começaram a surgir os primeiros alimentos acondicionados em latas de aço; em 1813, a Marinha e o Exército inglês passaram a utilizá-las com esse propósito.
Em 1815, acontece a estréia da lata na Batalha de Waterloo, aquela em que Napoleão Bonaparte se deu mal.
O desenvolvimento da estrutura da lata começou em 1824, pelo inglês Joseph Rhodes, que utilizou um método prático de colocação da tampa e fundo – recravação, que só muitos anos depois foi largamente utilizado.
Em 1825, Kansett, que fabricava alimentos e os acondicionava em vidros de boca larga tampados com cortiça, obteve a patente para os recipientes metálicos, as latas. Até esta data, as latas eram produzidas a partir de chapas de ferro estanhadas e não de aço, material utilizado hoje.
As primeiras latas de comida só chegaram às lojas em 1830. Incluíam tomates, ervilhas e sardinhas, mas suas vendas eram lentas, principalmente pelo preço ainda elevado, pela disponibilidade da comida fresca nas cidades e pela dificuldade de abertura da lata – usava-se martelo e talhadeira. O alto preço das latas era atribuído à baixa demanda de mercado e ao método artesanal de fabricação e envasamento. A maioria do mercado ainda era destinado à companhia de navegação e logo, caravanas e trens passaram a estocar as latas para longas viagens – a comida enlatada tornou-se, então, parte dos hábitos alimentares.
O primeiro grande passo foi dado em 1847 com a invenção da máquina para impressão gráfica para o corpo das latas, sendo seguida pela invenção das máquinas de lavar latas e pelos sistemas de transporte entre vários estágios das linhas de processo.
O que pouca gente sabe é que o abridor de latas só surgiria 40 anos depois do surgimento da lata, criado pelo inglês Robert Yates, em 1855. Durante quatro décadas as latas eram abertas com ajuda de faca, quando em casa, ou de baioneta, no campo de batalha. Os mais práticos usavam martelo e talhadeira.
A guerra civil americana (1861-1865) foi outro fator importante para a expansão da comida enlatada, pois o governo direcionava toda a comida disponível para seus exércitos nos campos de batalha.
O aumento da demanda levou, naturalmente, ao aperfeiçoamento dos processos de fabricação das latas e do enlatamento.
Em 1874, AK Scriver inventou a autoclave, que reduziu consideravelmente o tempo de cozimento dos alimentos.
1880-1890, é introduzida nos Estados Unidos a primeira máquina automática para produzir latas.
Em 1892, surgiu o primeiro abacaxi em lata no Hawai.
Em 1896, Max Mas e Julius Brezinger se conscientizaram de que o negócio de produção de latas dependeria do desenvolvimento de métodos mais modernos e rápidos. Após um ano patentearam um processo para produção de 20.000 latas/dia, dispensando a necessidade de soldagem das tampas e fundos das latas, além de aumentar a resistência, abrindo o caminho para o desenvolvimento de linhas de altas velocidades.
O desenvolvimento das latas de aço foi então impulsionado pela revolução industrial, que possibilitou a mecanização da fabricação das latas e também de chapas de aço de baixo teor de carbono. Assim a matéria-prima fundamental para a produção da lata passou a ser a chapa de aço recoberta por uma fina camada de estanho, conhecida com o nome de “folha-de-flandres”. No final do século XIX, a lata de aço de três peças (fundo, corpo e tampa) já era produzida de forma muito semelhante à dos dias de hoje.
Entre 1870-1900 o número de enlatadores saltou de menos de 10 para 1800.
A partir de 1920, passa a se utilizar vernizes internos.
Em 1930, as latas começaram a se tornar populares.

A Lata para Bebidas

Em 1933, a primeira lata de cerveja foi feita nos Estados Unidos pela American Can Company, em Newark, New Jersey, para a Cervejaria Krueger. Que lançou uma pequena quantidade para teste da Cerveja Krueger Especial, para ter idéia da aceitação dos consumidores, tornou-se um sucesso. Como a quantidade foi pouca, atualmente nenhum exemplar desta lata é conhecido.
Mas mesmo assim, a Krueger só começou a enlatar em larga escala em janeiro de 1935, agindo com cautela revendendo uma cerveja em Richmond, Virginia, uma cidade longe do mercado deles. Como a cerveja enlatada mostrou ser um alto negócio a mesma empresa (Cervejaria Krueger) lançou a lata para comercialização, em duas versões: Krueger Cream Ale (verde) (figura 1) e Krueger Finest Beer (vermelha) (figura 2). Este sucesso convenceu a principal cervejaria americana, a Pabst, na utilização da lata. A partir daí muitos cervejeiros copiaram as duas companhias no enlatamento de cerveja e começaram a atrair os consumidores com frases chamativas nas latas iniciando assim o marketing para ganhar mais clientes.
Uma lata alternativa foi introduzida neste momento, acirrando mais a concorrência e para agradar mais aos consumidores, chamou-se a lata de cone-top (topo em forma de cone) (figura 3). A cone-top podia ser enchida novamente e aberta como uma garrafa pois havia tampa. Com o sucesso muitos cervejeiros tiveram que adaptar suas linhas de produção para esta nova lata.
Na Europa, em virtude de acompanharem o desenvolvimento nos Estados Unidos e virem o sucesso da lata, os fabricantes de Llanelli, Gales, viram a oportunidade de aumentar o emprego e a prosperidade enquanto os outros exitavam. A lata cônica (cone-top) começou a ser testada em 3 de dezembro de 1935 pela Cervejaria Felinfoel e após alguns meses, em 19 de março de 1936, foi lançada ao público (figura 4).
Em julho de 1936, onze cervejarias já encomendavam suas latas. Depois de Felinfoel, logo passaram a enlatar a cerveja: Jeffreys de Edimburgh; Barclay, Perkins e Hammertons de Londres; Simonds de Reading e Mc Ewans e Tennants da Escócia. No fim do ano, dois milhões de latas haviam sido produzidas.
A primeira lata comemorativa que se tem notícia foi produzida pela Cervejaria Felinfoel em maio de 1937 para marcar a coroação do rei George VI (figura 5).
A partir de 1940, começa o desenvolvimento do processo eletrolítico para o estanhamento de folhas-de-flandres, ainda em 1940, uma variação nas latas lançadas pela empresa Crown Cork, a Crown Tainer (figura 6) que apresentava um formato semelhante, porém feita de duas partes enquanto as flat-tops e cone-tops eram feitas de tres partes (tampa, corpo e fundo).
No início dos anos 60, começa a substituição da solda à base de chumbo por solda elétrica.
Em 1960, é inventada a lata de alumínio fácil de abrir (sistema easy-open).
Refrigerantes enlatados começaram a ser vendidos em máquinas em 1961, juntando-se as garrafas de vidro, já vendidas na época. E no final dos anos 60, passaram a dominar a venda nas máquinas.
Em 1962, surge as latas Pull-Tabs (com puxador).
em 1963, foi manufaturada a primeira lata de bebidas de alumínio pela Reynolds Metals Company, nos EUA, foi usada para embalar um refrigerante de cola diet chamado "Slenderella. A Royal Crown adotou a lata de alumínio em 1964, sendo seguida em 1967 pela Pepsi e Coca-Cola.
Esta era uma interessante inovação para a indústria de embalagens porque a lata de alumínio era feita somente de duas partes. Um corpo e uma tampa. Isto tornou possível a impressão em 360° no corpo da lata, chamando mais atenção dos consumidores nas prateleiras devido as belas e coloridas impressões. Uma lata poderia agora fazer propaganda do seu conteúdo, criando uma forte atração visual que poderia impulsionar a venda de um produto em relação a outros.
Esta vantagem de mercado foi adicionalmente alavancada com a introdução dos “multi-pack” (embalagem com doze latas) em 1972 pela Pepsi-Cola, que permitia a venda de várias unidades simultaneamente. Devido aos custos mais reduzidos, os consumidores passaram a poder armazenar maiores volumes das suas bebidas preferidas em suas geladeiras.
Em 1974, é introduzida a tampa stay-on-tab (anel que não solta da tampa).
Em 1985, as latas de alumínio já eram as embalagens mais populares de bebidas em qualquer mercado. Segundo pesquisas realizadas nos EUA, os consumidores compram quatro vezes mais refrigerantes em latas de alumínio do que em garrafas de plástico e 38 vezes mais do que em garrafas de vidro.

A lata Brasileira - Lata de Flandres e seus Fabricantes

As primeiras latas para bebidas foram fabricadas no Brasil em folhas de flandres (chapas metálicas feitas de ferro e uma pequena parte de estanho ou cromo) na Metalúrgica Matarazzo, em 1968, a pedido da Skol Internacional Beer (figura 7), hoje Skol Cerveja Pilsen. A idéia era abastecer mercados distantes da Capital de São Paulo.
As latas confeccionadas em folha de flandres (latão ou ferro, como são comumente chamadas), foram as primeiras produzidas pela industria de embalagens para envasamento de cervejas e refrigerantes. No Brasil as latas de flandres começaram a aparecer em 1971, a primeira lata de cerveja produzida foi feita para a Cervejaria Skol seguindo um padrão visual muito próximo da lata produzida para a cerveja Skol canadense. Acredito que o design da lata derivou deste "modelo".
Existiram apenas duas fábricas de latas para cervejas e refrigerantes no Brasil, a Metalúrgica Matarazzo e a Rheen.
O processo produtivo consistia em várias etapas, que podem ser divididas em cinco diferentes fases. O corte da chapa, a estampagem da marca da bebida, o seu calandramento (enrolamento), a prensagem do fecho e finalmente a colocação da tampa. O seu fundo era colocado após o envase, na cervejaria.
As cervejarias definiam o layout da lata após o recebimento de amostras, que eram feitas primeiramente em papelão colado em volta de uma lata e apresentadas para eventuais correções. Posteriormente a cervejaria indicava qual desenho deveria ser estampado em suas latas e a mesma era estampada pelo fabricante de latas em uma chapa que era novamente encaminhada a cervejaria para prova final (figura 7A). Aprovada a lata e feita a encomenda, o fabricante de latas passava a produzir em escala comercial. De tempos em tempos ocorriam modificações no texto, desenho ou algo no texto, o que para nós colecionadores passa a ser um detalhe importante a ser considerado em nossa coleção.
Existem colecionadores que também consideram as mudanças acontecidas nas tampas das latas, que também tinham "identidade própria", haja vista que cada fabricante produzia seu modelo de tampas e as mesmas já saiam da fabrica afixadas nas latas. Houve poucas modificações nos modelos de tampas produzidas pelas metalúrgicas, as tampas conhecidas são:

        - Da metalúrgica Rheen: todas as tampas são estampadas com o texto "Levante e Puxe" de um lado e "Lift Ring-Pull" do outro em alto relevo. Ocorreu apenas uma alteração no formato do rebaixo feito para dar acesso ao "puxador" que depois de um certo tempo perdeu o desenho de uma ferradura (figura 8) e passou a ser circular (figura 9). Para envase de cervejas sempre foi produzida na cor dourada, e para outras bebidas também na cor prata. Não tenho conhecimento de outras variações.

        - Da Metalúrgica Matarazzo: Todas as tampas tem seu texto estampado em baixo relevo, e foram utilizadas mais variações de texto. Existe um modelo com o texto "Lift Ring-Pull" escrito dos dois lados que eu só encontrei nas latas da Skol International de 340ml (figura 10). Outro modelo com o mesmo texto em espanhol, encontrado nas latas produzidas pela MM para países da América do Sul e México (figura 11). Para o mercado brasileiro existem dois modelos, um com o texto em português e inglês (figura 12) e outro com o texto em português somente, esse muito raro. A partir de determinada data as tampas da MM passaram a conter a inscrição "Pat. Def." obviamente mencionando que o sistema de abertura de sua tampa era patenteado. A MM produziu suas tampas nas cores dourada e prateada, sendo mais comum sua utilização dourada nas cervejas e prateada nas outras bebidas, porém com exceções.
Sobre o fecho das latas (solda), foram utilizados modelos distintos pelas metalúrgicas, sendo que a Rheen utilizou três tipos de fecho, que são:
        - 0 fecho "barra grega", denominação colocada pelo colecionador Cid Gonçalves por sua semelhança com a referida forma geométrica, sem duvida o mais comum e característico dessa metalúrgica (figura 13).
        - 0 fecho "ponteado", caracterizado pela marca de algumas "batidas" somente na região da costura, que foi utilizado por essa metalúrgica somente em duas versões produzidas pela mesma (ate onde sei, somente uma Inglesinha e uma Brahma Chopp preta possuem este tipo de fecho ponteado) (figura 14).
        - 0 fecho "colado", caracterizado pela prensagem estreita do fecho, que dava um aspecto melhor as latas, economizava material, visto que dispensava a aplicação de uma camada de tinta sobre a soldagem para evitar a oxidação, e ainda proporcionava uma maior área para impressão do rótulo (figura 15).
A Metalúrgica Matarazzo também produziu uma versão semelhante, porém com a colagem um pouco mais larga (figura 16). Além dessa versão a Matarazzo produziu somente a versão "ponteada", semelhante à versão da Rheen (figura 17).
Quanto à forma de identificação da Metalúrgica responsável pela produção das latas, a Rheen utilizou-se de dois diferentes logotipos, semelhantes em sua forma, porém um deles com o fundo "vazado", que era impresso utilizando-se de uma das cores utilizadas na confecção da lata e o outro com o fundo dourado. Já a MM utilizou-se de três diferentes “logos", o primeiro com a inscrição M.M.S.A. , o segundo com a inscrição M.M.S./A. e o terceiro somente com MM dentro de um círculo. A cor da impressão do logotipo nas latas da MM variava conforme as cores utilizadas pela fábrica na confecção das latas.
As últimas latas de cerveja a utilizarem-se das latas de flandres datam de 1992, sendo que a última a ser produzida pela MM foi a Brahma Beer "bronze", feita para exportação para a América do Sul.

A Lata Brasileira - Lata de Aço e Seus Fabricantes

Em 1996, é fundada a Metalúrgica Metalic pela família Steinbruch no Distrito Industrial do município de Maracanaú na Grande Fortaleza, Ceará.
Em 2002, a Metalic é adquirida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

A Lata Brasileira - Lata de Alumínio e Seus Fabricantes

Em 1982, o Brasil já havia se tornado auto-suficiente na fabricação de alumínio primário, condição fundamental para a implantação de fábricas de chapas e, conseqüentemente, de latas de alumínio.
Em 1986, a Alcan Alumínio do Brasil Ltda instalou um laminador a quente na sua unidade industrial de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, equipamento único na América Latina, destinado a fabricação de latas de alumínio para bebidas gaseificadas. Este investimento foi o primeiro passo para suprir o País de meios técnicos para a adoção das novas embalagens. Depois de aperfeiçoadas tecnicamente, as chapas de alumínio produzidas em Pindamonhangaba pela Alcan passaram pelas avaliações dos laboratórios da Canadense Alcan e da Reynolds americana.
Em 26 de outubro de 1989, a Latas de Alumínio S.A. - LATASA, inicia as atividades comerciais implantando sua primeira fábrica de latas de alumínio no Brasil, em Pouso Alegre, Minas Gerais. Rapidamente, o modelo lançado por esta empresa, substituiu as antigas latas de aço de três peças (tampa, corpo e fundo) por um modelo de apenas duas peças: corpo e tampa.
Em 1996, a Crown Cork Embalagens S.A. coloca em operação sua fábrica de latas de aluminio em Cabreúva (SP). Neste mesmo ano, a American National Can do Brasil Ltda., então subsidiária da Pechiney, hoje Rexam, instala fábrica de latas de alumínio em Extrema (MG).
Em 1997, a Latapack-Ball Embalagens Ltda. inicia sua fabricação de latas de alumínio em unidade industrial localizada em Jacareí (SP).
Em julho de 1998, a Metalic fez um acordo de tecnologia com a SL-CCE, líder mundial na tecnologia de fabricação de latas de aço de duas peças, o que lhe permitiu o acesso a um moderno centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia em Bonn, na Alemanha. Primeira fábrica de latas de duas peças em aço para bebidas no Brasil, a Metalic é hoje a única produtora desse material nas Américas e vem se consolidando como a principal fornecedora de embalagens em aço para bebidas para o Nordeste.
Em julho de 2000 a Rexam adquire a American National can e no Brasil cria a Rexam do Brasil S/A.
No fim de 2003, a Rexam adquiriu o controle da LATASA que estava em mãos do Bradesco, Alcoa e JP Morgan, em uma operação de mais de US$ 400 milhões. Com isso, tornou-se a maior fabricantes do país de latas de alumínio.
Atualmente, a Rexam B.C.S.A. (antiga Latasa e Rexam do Brasil), além da fábrica em Pouso Alegre (MG), tem outras cinco fábricas: Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, com capacidade de produção de 10,6 bilhões de latas/ano, além de uma em construção no Amazonas. A Crown Embalagens tem uma capacidade de produção de 2,1 bilhão de latas/ano. A Latapack-Ball tem capacidade de fabricar 1,75 bilhões de latas/ano. As três empresas juntas têm uma capacidade de produção de mais de 14 bilhões de latas por ano.
As tampas são produzidas pela Rexam B.C.S.A., Crown Cork e Latapack-Ball e suas fábricas estão localizadas em Suape (PE), Aracajú (SE) e Simões Filho (BA), respectivamente.